Nós do Cervejas e Vinhos temos uma predileção por vinhos incomuns e uvas pouco usuais, e de tempos em tempos procuramos organizar degustações focadas em vinhos exóticos e/ou fora da curva. Desta vez fomos atrás de exemplares das castas Aligoté, Romorantin, Gamaret e Mencía. Confiram como foi:
Domaine Fanny Sabre Aligoté 2018
Apesar de ser considerada uma casta de segunda classe da Borgonha, terra da Pinot Noir e da Chardonnay, a Aligoté quando bem produzida por render vinhos excelentes, como é o caso deste que provamos.
Fanny Sabre é uma jovem vinicultora que começou a produzir seus próprios vinhos na Borgonha em 2006, quando recuperou uma propriedade familiar, após a morte de seu pai. Antes de ganhar sua autonomia ela trabalhou 3 anos com Philippe Pacalet, uma referência na região. Fany possui apenas 4,5 hectares próximos à Beaune e produz micro cuvées sob diferentes apelações, cada uma com apenas 900 à 1200 garrafas!
Orgânico / Biodinâmico nas vinhas, com uvas colhidas à mão, fermento natural de levedura em aço, sem ajustes, baixo teor de sulfitos, toque muito leve de barricas velhas. O resultado é um vinho com a cara da Borgonha, puro e limpo, estruturado e com grande frescor. Notas salinas e minerais se mesclam as frutas brancas e cítricas. Ótimo!
Descendente natural da Pinot Noir e da Gouais Blanc, a Aligoté é uma casta particularmente popular na Europa Oriental, em países como Ucrânia, Moldávia, Romênia, Bulgária e Rússia. Também é cultivada na Suíça, nos EUA e na Austrália.
Vinho adquirido na Wines4U.
Domaine Philippe Tessier “Les Sables” Cour-Cheverny 2018
Sobre a uva Romorantin e a denominação Cour-Cheverny, já publicamos um breve artigo aqui no site.
O produtor Philippe Tessier acredita que um vinho deve expressar o local de onde vem, as condições climáticas do ano e o vinhedo que o produz. Além disso, deve respeitar a vida do solo e do meio ambiente.
Toda a produção é feita com uvas de cultivo orgânico em vinhas de 20 a 40 anos em solo silico-argiloso (areia sobre argilas). A colheita é realizada de maneira manual. A vinificação é feita através de prensagem direta, utiliza leveduras indígenas e é feita fermentação maloláctica. Amadurecimento é feito em madeira (10 meses em cubas troncônicas e em demi-muids) e 5 meses em cubas de cimento. Filtragem leve. Somente um pouco de sulfito é adicionado no engarrafamento. Certificação orgânica.
Ficamos encantados com o vinho, diferente de tudo que já provamos. O nariz anunciava um vinho adocicado, com notas de maçã, pêssego e abacaxi. Mas em boca, o frutado adocicado vinha acompanhado de mineralidade e acidez marcante, sendo untuoso e denso. A alta graduação alcoólica de 14,9% não era perceptível. Um vinho muito atípico, difícil de descrever, e que desde já promete figurar em nosso Top 10 anual de melhores vinhos do ano.
Adquirido na Delacroix.
Regis & Sylvain Gamaret Vin de France 2019
Régis e Sylvain são dois primos de Marseille, que juntaram suas respectivas experiências em finanças e enologia para criar uma marca que supre uma demanda importante do mercado: vinhos despretensiosos, puros e bem feitos, onde o prazer de beber fala mais alto que o prestígio ou as regras de uma apelação específica. Para isso identificaram viticultores de excelência que trabalham de forma sustentável, dos quais compram uvas para produzir seus vinhos. O sucesso foi tanto que agora já produzem vinhos de diversas regiões da França, sempre com rótulos modernos, frescor e qualidade.
A uva Gamaret é uma raridade – uma cruza entre Gamay e Reichensteiner criada na Suíça para resistir ao frio local. Este vinho é produzido no Cru de Morgon, em Beaujolais, numa colina íngreme a 350m de altitude. Foi fermentado com 50% de cachos inteiros e amadurecido por 6 meses em concreto.
O aroma traz frutas pretas e vermelhas frescas e especiarias doces. Na boca é leve, frutado, com boa acidez e final levemente picante. Bom vinho.
Adquirido na Cellar.
Dominio do Bibei Lalama 2015
Elaborado a partir de vinhas entre 20 e 110 anos de idade, trata-se de um blend composto por 90% de Mencía e 10% de Brancellao, Mouratón, Sousón e Garnacha. Mais de 60% das uvas são fermentadas sem desengaçamento, o que aporta estrutura, e taninos mais firmes ao vinho. Amadurecimento de 12 meses em barricas de carvalho francês e 10 meses em foudres de carvalho francês.
O aroma possui certa complexidade, com frutas vermelhas maduras, notas herbáceas e vegetais, especiarias e defumado. O corpo é médio, com taninos domados e boa acidez. Belo vinho!
Já publicamos no site um artigo sobre a região de Ribeira Sacra, localizada no noroeste da Espanha, e sobre a uva Mencía, que vocês podem conferir clicando aqui. Em Portugal a Mencía é conhecida como Jaen e Loureiro Tinto. Na região do Dão a Jaen é considerada uma uva nativa, mas, ao que tudo indica, sua origem está em Bierzo, na Espanha.
Vinho adquirido na World Wine.